No período das grandes navegações, monstros vorazes, sereias hipnotizantes e outros tantos perigos eram relatados e desenhados nas cartas náuticas. Acreditava-se que o mundo era plano e que se poderia cair ao aproximar-se demais da sua beirada. Outros perigos eram bastante reais, principalmente para as pequenas náus que cortavam mares não mapeados.
Relatos reais se misturavam com outros irreais, com fantasias e distorções de histórias que já haviam passado por muitas bocas. Tudo simbolizava o medo do homem frente ao desconhecido.
Para vencer o medo das terras incertas, heróis se armavam de bravura e coragem. Nós temos uma alternativa: buscar conhecimento. Ao desmistificarmos o desconhecido, ele perde sua principal força: a capacidade de apavorar.
O medo sempre serviu para evitar que a maioria se lançasse em aventuras, deixando espaço para poucos pioneiros. Vencer o medo não é eliminá-lo, mas saber utilizá-lo a seu favor, evitando riscos acima de seu perfil. Para isso é necessário separar os medos reais dos imaginários.
A Bolsa de Valores e o Mercado de Capitais são envoltos por uma mesma atmosfera sombria, casos apavorantes e convicções intensas. São os nossos monstros, relatados de boca em boca com histórias, reais ou não, distorcidas pelo tempo, selecionadas pela capacidade de assombrar o imaginário coletivo, intensificadas pelo desejo do interlocutor de impressionar sua platéia. Podemos dividir esses relatos em três grupos: alguns desses relatos são histórias, outros foram verdadeiros num passado recente, e, os últimos, são verdadeiros ainda hoje.
No primeiro grupo, dos relatos e convicções não verdadeiros, podemos identificar que a maioria de tais relatos aparece por generalizações de experiências próprias – raramente contadas integramente – ou por teorias conspiratórias. Normalmente não se sustentam após uma investigação.
O segundo grupo, dos relatos que foram verdadeiros no passado, deixa de fazer sentido à medida que a evolução tecnológica e regulatória impede, ou dificulta, que eles se repitam.
Finalmente há os relatos do terceiro grupo, que nos assustam e ainda podem ocorrer, portanto são verdadeiros. Há riscos reais na Bolsa de Valores. Esses riscos não são eliminados, mas podem ser gerenciados. Há técnicas para isso, mas poucos as seguem.
Vamos ver um exemplo de história do primeiro tipo, dessas que ajudam a criar uma atmosfera de medo, injustamente. Chama-se “O aldeão e os burros“.