A presença de um mercado de ações desenvolvido é bom para a empresa, para o investidor e para a sociedade. O mercado não existiria a tanto tempo se não fosse assim.
Bom para a Empresa
A empresa que abre capital se beneficia do processo. Por um lado, é uma forma de captar dinheiro onde os sócios entram no risco. Por outro, tendo uma miríade de sócios e sendo obrigada a abrir-se, ela ganha observadores que podem ajudá-la a identificar problemas. Se os clientes podem ajudar as empresas, quem dirá os acionistas, que tem capital comprometido nela.
Qualquer empresa possui algumas alternativas para captar dinheiro. A primeira é tomar dinheiro emprestado. Pode tomar um empréstimo em um banco, como qualquer empresa ou pessoa. Empresas de capital aberto podem emitir títulos de dívida. É uma forma diferente de captar dinheiro – vende títulos a R$ 880,00, por exemplo e paga R$ 1.000,00 no vencimento. Isso embute uma taxa de juros. Qualquer pessoa pode comprar esses títulos, chamados debêntures, ou obrigações. O rendimento é tipicamente um pouco maior que os títulos do Tesouro Nacional (Selic), pois considera-se que a União mais segura, pois pode emitir moeda no pior caso. Assim, como os títulos de empresas são vistos como mais arriscados do que os do governo, os compradores exisgem uma taxa de juros mais alta.
Quanto maior for a empresa, mais sólida e confiável, menor será a taxa de juros. É por isso que apenas empresas de um certo porte emitem esses títulos. Para empresas menores, a taxa de juros exigida é superior, e chega a um ponto que não vale à pena.
A segunda alternativa para captar dinheiro é achar um sócio. Ele entra no risco do negócio junto com a empresa. É o que acontece quando você compra ações.
Dessa forma, a emissão de ações é uma alternativa de captação de recursos.
Há um outro aspecto importante para uma empresa que abre o capital. Como dissemos, a empresa de capital aberto tem de ser transparente nos números, pois qualquer um pode ser um investidor em potencial. Isso é ótimo para a empresa.
Investidores estrangeiros merecem um comentário. Eles são alvos de algumas dessas teorias conspiratórias, normalmente relatadas por pessoas que ainda pensam no país como alvo do colonialismo, e não um importante ator no cenário global. Eu acredito que esse tempo já passou. Não enxergo, nem gosto de enxergar, o país como uma criança que precise de ajudo e proteção. Vejo o país como um adulo que sabe se cuidar. E sabe competir.
A teoria segue dizendo que o capital do investidor estrangeiro vem aqui para explorar, ou aproveitar o momento de baixa. Ora, então compre também! Se está barato para o estrangeiro, está para você!
Na saída do estrangeiro, ouve-se: não tem compromisso com o país, na primeira dificuldade, vão logo embora. Tenho duas respostas para isso.
Se o seu fundo de pensão investisse em outro país, você não gostaria que ele saísse ao primeiro sinal de dificuldade. Por que os aposentados de outro lugar têm de arriscar, num país em que apenas 0,30% da população compra as ações de suas próprias companhias. Então compre também, eu diria! é normal que haja investidores mais voláteis (ou cuidadosos, depende do lado que você está), e outros mais arrojados.
O segundo ponto é que esse comportamento do investidor estrangeiro é bom para todos nós. Em locais com risco de vazamento de gases tóxicos, costuma-se pendurar pássaros no ambiente. Esses animais são muito mais sensíveis à presença de certos gases. Dessa forma eles funcionam como um alerta para as pessoas que possam estar expostos a perigo. Os investidores estrangeiro podem servir como estes pássaros, alertando a todos ao primeiro sinal de dificuldade.
Não precisamos vender tudo o que temos para estrangeiros, mas a presença de capital estrangeiro volátil aqui é positivo: são mais olhos olhando o boi, e olhos que podem comparar nós com os outros, obrigando-nos a nos manter competitivos.
Enfim, temos que saber aproveitar os outros benefícios, que vão além do dinheiro para investimento. Pense como sócio da empresa, para ele é bom ter outros sócios olhando junto com você. Você pode, por exemplo, viajar de férias tranquilo, sabendo que há mais gente olhando. É bom para a empresa e é bom para os sócios dela.
Bom para o Investidor
Se a empresa for bem, você se beneficiará disso, você estará com ela. Mesmo aquele que não investe, por acreditar nos monstros marinhos e outros perigos, deve admitir que o direito de poder participar é positivo. Mesmo que você nunca use esse direito, ele está lá, garantido.
Imagine que aparecesse uma lei dizendo que agora só seriam possíveis empresas de capital fechado e com grandes investidores. Você acharia bom? Ter a possibilidade de participar das grandes empresas é uma dádiva, mesmo que você opte por não fazê-lo. A escolha é sua! Você tem o direito de escolher!
Bom para a Sociedade
Todos nos beneficiamos da presença de um mercado de capitais desenvolvido. Vamos primeiro aos fatos e depois aos argumentos. Todos os países com desenvolvimento econômico elevado possuem um mercado de ações desenvolvido. Estudos do Banco Mundial apontam uma alta correlação entre os indicadores econômicos e os indicadores do mercado acionário. Pode-se argumentar que a correlação existe porque a Bolsa segue o humor da economia. Então vamos aos argumentos.
O mercado permite uma via alternativa para o investimento na produção. Membros da sociedade, podem participar das grandes economias do país, escolhendo onde investir. A alternativa seria colocar o dinheiro em fundos e instituições financeiras, que fariam isso por você. Numa comparação política, no primeiro caso são eleições diretas, você escolhe. No segundo, são eleições indiretas, você escolhe quem vai escolher. Ao contrário do sistema eleitoral, no sistema financeiro ambas as modalidades podem conviver. Ao contrário do sistema eleitoral, onde muitos votam sem compromisso por não enxergarem as consequencias da escolha casual e impensada, nas ações a escolha dói diretamente no bolso.
Poderia argumentar, então, que a participação do mercado de capitais ajudaria a educar a população a escolher conscientemente e ser mais ativa durante a vigência da escolha. Isso empoderando o cidadão obriga-o a um maior comprometimento em suas escolhas. Ei! O presidente da empresa é um seu representante, escolhido na assembléia de acionistas. Os governates também são seus representantes, escolhidos em eleições. Ambos são sistemas democráticos e representativos.
Assim, você pode escolher diretamente as empresas que vai investir, ou delegar a alguém para fazê-lo. Acredito que aqueles que optam por escolher pessoalmente tenderão a ser mais engajados, se tornando observadores das empresas, o que é bom para a sociedade e para a longevidade da empresa. Isso fomenta a cidadania.
Outro argumento é a distribuição de renda, no sentido de renda no lucros das empresas. O crescimento do país se dá pelo crescimento das empresas. Se não houvesse um mercado de ações, aqueles com pouco dinheiro não poderiam participar dessas empresas, pois não teriam capital para montar a sua, nem seriam aceitos em empresas de capital fechado. A existência de grandes empresas, consolidadas, e abertas a sócios com baixíssimo capital, permite uma democratização do acesso ao setor produtivo.
Finalmente, empresas de capital aberto devem ser transparentes, como veremos no próximo capítulo. Isso é ótimo para a sociedade, pois sabemos exatamente quanto e onde ganham, quais os objetivos, onde estão as operações e tudo mais que você queira saber. Empresas abertas são melhores que as fechadas para a sociedade, suas cartas estão abertas na mesa.