Antes de falar em investimento, é fundamental entender a relação risco-retorno. Ela será sempre a sua bússola quando for avaliar a entrada em algum investimento.
Um dos ditados mais sábios, não só no mercado financeiro, mas em várias situações é
“Não existe almoço grátis”.
Ele pode ser expresso em vários formatos distintos. Por exemplo, alguns dizem que sempre há um outro lado da moeda. Alguns atribuem algumas catástrofes a um “vingança” da Natureza, ou algo similar, atribuindo-lhe um temperamento humano.
A verdade é que para cada ação há uma reação – os sistemas se acomodam. Toda a escolha tem um custo. Ele pode vir em termos de risco, de saúde, de tempo, ou em qualquer outra forma. O fato é que não podemos ter tudo ao mesmo tempo, temos que fazer escolhas.
Em investimentos, risco e retorno são duas faces da mesma moeda. Cada vez que buscamos relações retornos maiores, isso deve vir junto com um aumento de risco. Cada vez que reduzimos o risco, o retorno também deve ser reduzido.
Cada país tem uma curva de risco-retorno típica, como no gráfico a seguir.
Ele mostra que o dinheiro pode render algo com risco praticamente nulo e que, a partir daí, à medida que se aumenta o risco, deve-se esperar retornos maiores para compensar o risco corrido. De outro lado, retornos maiores trazem, de maneira indissociável, riscos maiores. É esse o outro lado da medalha, é esso o preço do almoço. Não há mágica.
Do lado esquerdo do gráfico temos baixos retornos e alta segurança. Investir em títulos do tesouro, ou equivalente, dá um retorno de cerca 10-11 reais para cada 100 reais investidor, em um ano (na época em que escrevemos o livro). A probabilidade disso acontecer é praticamente 100%, ou sejam, é certo, seguro – não há incerteza.
Do lado direito, se nos distanciarmos suficientemente, chegaremos às roletas, loterias e afins. Estamos em uma área que o risco é tão grande que temos a certeza da perda. Gastando dois reias em um cartão de loteira, podemos ter um retorno de milhões. Entretanto a probabilidade disso acontecer é… zero. Praticamente zero. Em outras palavras, você tem quase a certeza que você irá perder o seu dinheiro “investido”. Na realidade não podemos chamar isso de investimento, é mais uma “fezinha”do que qualquer outra coisa.
Note que podemos relacionar risco com incerteza de retorno, ou probabilidade de perda. E podemos relacionar risco com retorno. O mercado de dinheiro (juros) é também um mercado de risco. Compra-se e vende-se risco, e a moeda do risco é a taxa de juros, ou taxa de retorno.
Muita gente é levada a tentar “grandes tacadas”. Ganância e desconhecimento se unem. Procuram grandes retornos e esquecem que há grandes riscos envolvidos. Expõem-se em excesso e, pode-se dizer que é uma questão de tempo até terem uma grande perda.
Num exemplo extremo, imagine um jogo de “dobra ou perde tudo”. Não interessa quantas vezes você vai ganhar, basta perder uma vez. E isso vai acontecer alguma hora.
Não tente enganar esse mercado de juros e risco. Use-o como mapa para se guiar na navegação. Não tente usá-lo para encontrar um tesouro: você iria entregar o seu. No lugar de ganhar o que busca, você irá perder o que tem.
O mercado se equilibra?
Se o mercado fosse perfeito, as relações risco-retorno estariam sempre equilibradas. Na prática pode haver distorções nessa relação, entretanto, essas distorções são rapidamente fechadas pelo mercado – num processo chamado arbitragem.
O mercado de Juros e Risco
Há entidades com grandes quantidades de dinheiro, e uma grande necessidade de investir. Imagine os fundos de pensão, arrecadam grandes quantidades e precisam investir esse dinheiro para garantir a aposentadoria de seus participantes. Não podem arriscar as aposentadorias de todos, mas devem rentabilizar o dinheiro.
Há outras entidades que fazem isso. Assim, há um mercado de dinheiro que procura investimentos e retornos.
Cada vez que aparece alguma oportunidade fora da curva, como abaixo, surgem investidores e empreendedores que vão explorar aquela oportunidade.
Assim, o negócio que era muito bom, fora da curva, é empurrado de volta à curso por dois fatores:
- o aparecimento de concorrentes achata a margem, ou seja, diminui a rentabilidade;
- o aparecimento de concorrentes aumenta o risco do negócio.
Na prática, deve haver uma composição dos dois movimentos, empurrando a relação risco-retorno desse negócio para cima da reta. A mágica acabou.
[Gráfico retorno]
Esse processo não é perfeito, mas pode-se considerá-lo assim, numa primeira aproximação.
O recado então é: não existe almoço grátis. Se você procura mais retorno, trará junto, na sacola, mais risco. Não há como evitar. Nesse caso, o risco relativo não se evita. Você pode, isso sim, controlar ou gerenciar o risco absoluto.
Há várias formas de fazer isso. Todas passam por dosar a exposição ao risco.
Tendo isso em mente, você poderá passear pelo supermercado do risco-retorno, sabendo o que fará. O importante é ter, na ponta do lápis, o risco assumido.
Qual o Preço do Almoço ?
Se não há almoço grátis, significa que há algum preço escondido em aquilo que aparenta ser grátis – ou outros estão pagando a conta. No caso de investimentos, o preço de maiores retornos pode ser mais risco ou menos liquidez, ou seja, você precisa de mais prazo para obter o dinheiro de volta.
Um dos aspectos interessantes do mercado de ações é a possibilidade de dosar a relação risco-retorno numa faixa bastante ampla. Infelizmente, muitas pessoas que inicialmente relutam em entrar no mercado de ações, são atraídos para investimentos de alto risco porque querem da uma “grande tacada”, ou por não ver o risco inerente – o que é pior.
E correto dizer que não existe almoço gratis